Marcelo Musa Cavallari
Está tudo sob controle em Cuba. Poucos dias antes de a assembléia cubana – um arremedo de Parlamento que ratifica as decisões do Partido Comunista – decidir se Fidel Castro voltaria ou não ao poder, o ditador anunciou sua aposentadoria. “Não busco e não aceitarei um novo mandato como presidente”, disse Fidel. Fora do poder há um ano e meio, Castro deu a conhecer sua decisão em uma carta publicada na primeira página do Granma, o jornal oficial do PC cubano.
O velho e doente líder da revolução cubana deixa formalmente o poder depois de 49 anos. Já não exercia o cargo desde que ficou doente, em 2006. Seu irmão, Raúl, é que estava no comando. Se Fidel voltaria ou não ao poder, não havia ficado claro até a carta do Granma.
O movimento foi muito bem calculado. Com 81 anos e já com a saúde abalada, Castro não poderia sonhar em ficar no poder por mais muito tempo. Mas não poderia ficar até morrer. Ninguém tem carisma suficiente para controlar a sucessão sem risco de uma derrubada do regime ou, no mínimo, um caos no país.
Assim, Castro se afastou e entregou a tarefa de governar a seu irmão. Durante um ano e meio a alternativa de um regime castrista sem Castro à frente foi testada. Agora, Fidel sanciona o regime e anuncia sua aposentadoria.
Não está claro quem o congresso cubano escolherá para suceder Fidel. A manobra da aposentadoria serve para deixar claro que ninguém, a não ser Fidel, decidiu quando encerrou seu período à frente do governo. Mas não há dúvida de que, quem quer que o congresso escolha, terá sido apontado por Fidel.
Não haverá mudanças bruscas ou radicais no regime. Nem na maneira como a comunidade internacional, especialmente os EUA, lidam com Cuba. Os exilados cubanos anti-castristas continuarão exilados. O bloqueio econômico imposto pelos EUA continuará em vigor.
Raúl acenou com a possibilidade de uma ligeira flexibilização do regime e uma maior preocupação com a eficiência e a honestidade administrativa. Mas ele sabe que não pode ficar muito tempo no poder, já tem 77 anos, e não há ninguém com o carisma dos revolucionários para sucedê-lo.
Uma saída seria negociar uma transição do regime: abertura política e econômica da ilha em troca de garantias de imunidade para os membros do regime e um lugar na política para o PC cubano. Um modelo como o que foi adotado na Polônia pós-comunista. Insistir no modelo castrista é suicídio. Excessivamente personalista, o comunismo tal como aplicado em Cuba não resiste sem a figura paternalista e opressora de Fidel.
Fonte: Revista Época
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