quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O comunismo cubano não resiste sem Fidel

Depois da renúncia do líder, Cuba terá que adotar outro regime para sobreviver

Marcelo Musa Cavallari


Está tudo sob controle em Cuba. Poucos dias antes de a assembléia cubana – um arremedo de Parlamento que ratifica as decisões do Partido Comunista – decidir se Fidel Castro voltaria ou não ao poder, o ditador anunciou sua aposentadoria. “Não busco e não aceitarei um novo mandato como presidente”, disse Fidel. Fora do poder há um ano e meio, Castro deu a conhecer sua decisão em uma carta publicada na primeira página do Granma, o jornal oficial do PC cubano.
O velho e doente líder da revolução cubana deixa formalmente o poder depois de 49 anos. Já não exercia o cargo desde que ficou doente, em 2006. Seu irmão, Raúl, é que estava no comando. Se Fidel voltaria ou não ao poder, não havia ficado claro até a carta do Granma.
O movimento foi muito bem calculado. Com 81 anos e já com a saúde abalada, Castro não poderia sonhar em ficar no poder por mais muito tempo. Mas não poderia ficar até morrer. Ninguém tem carisma suficiente para controlar a sucessão sem risco de uma derrubada do regime ou, no mínimo, um caos no país.
Assim, Castro se afastou e entregou a tarefa de governar a seu irmão. Durante um ano e meio a alternativa de um regime castrista sem Castro à frente foi testada. Agora, Fidel sanciona o regime e anuncia sua aposentadoria.
Não está claro quem o congresso cubano escolherá para suceder Fidel. A manobra da aposentadoria serve para deixar claro que ninguém, a não ser Fidel, decidiu quando encerrou seu período à frente do governo. Mas não há dúvida de que, quem quer que o congresso escolha, terá sido apontado por Fidel.
Não haverá mudanças bruscas ou radicais no regime. Nem na maneira como a comunidade internacional, especialmente os EUA, lidam com Cuba. Os exilados cubanos anti-castristas continuarão exilados. O bloqueio econômico imposto pelos EUA continuará em vigor.
Raúl acenou com a possibilidade de uma ligeira flexibilização do regime e uma maior preocupação com a eficiência e a honestidade administrativa. Mas ele sabe que não pode ficar muito tempo no poder, já tem 77 anos, e não há ninguém com o carisma dos revolucionários para sucedê-lo.
Uma saída seria negociar uma transição do regime: abertura política e econômica da ilha em troca de garantias de imunidade para os membros do regime e um lugar na política para o PC cubano. Um modelo como o que foi adotado na Polônia pós-comunista. Insistir no modelo castrista é suicídio. Excessivamente personalista, o comunismo tal como aplicado em Cuba não resiste sem a figura paternalista e opressora de Fidel.

Fonte: Revista Época

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